Uma trilha-sonora para filmes que não existem, mas que habitam nosso imaginário sob a forma de climas, ambientes, gestos e afetos. Um filme sobre o deserto e a dúvida, a dívida e o imponderável. O poder que a música tem em produzir imagens na mente é contígua a capacidade do som de nos reportar a realidades complexas, objeto dos mais reconhecidos nos estudos da percepção. A música cria um ambiente que, se não é materialmente visível, a audição nos permite vê-los como factíveis. A música evoca ações, paisagens, contornos mais ou menos definidos, objetos e até mesmo sum salão com suas mesas, abajures, sitiado por pessoas atormentadas.
“Imerso em uma ressaca, girando no curso alucinado do rodamoinho, assiste a uma grande formação ao longe. Boiando no mar de iodo, isolado, vê crescer sobre si uma onda descomunal, mas que perde sua força enquanto se aproxima. Percebe a intervenção centrípeta de outras torrentes que se intrometem, gerando milhões de pequenas ondas, foi engolido pela mesma superfície sobre a qual desliza o surfista. Imerso em pensamentos, buscou auxílio do salva-vidas. Um túnel o aguarda no oco do buraco.”
Os seres humanos e suas mil e uma enrascadas. Salão Extremo. Passagens subterrâneas, escalas monumentais, viagens:
“Passando por uma porta tão pequena, a ponto de ter que se curvar para que sua cabeça não atingisse em cheio o batente, Baltasar entrou no salão. Entrou e ficou surpreso com o tamanho do local, que passava bem de uns quinhentos mil metros de largura, paredes ornadas por olhos mudos e gigantescos que choravam sem limites, sem parar. Misteriosamente, o chão de mármore se transforma em uma superfície de sabão, emanando um cheiro viscoso que escorrega através do ar.
A barra pesa, a atmosfera irrespirável. Sua visão inundou-se de lágrimas que escorriam pelas paredes e ele riu deste momento. Não chorava propriamente, seus olhos fartos pela visão da piscadela suprema. Alagamento de visão sem prejuízo psico-afetivo: acendeu um cigarro, arriscou uns passos no chão escorregadio, arriscou umas braçadas: o sertão virou mar. Afogando-se, teve tempo de ler uma frase de afresco:
‘Visões além do lance,
de olho no lince do instante.’”
credits
released May 31, 2016
Henrique Diaz - electric guitar
Cacá Amaral - drums and percussion
Ricardo Pereira - xylophone, flute and eletronics
André Calvente - bass
Leandro Archela - keyboards
Maurício Takara - wind instruments and brazilian guitar (cavaco)
Tasmanian guitarist Julius Schwing embraces the visceral sounds of finger playing, incorporating them into his experimental guitar work. Bandcamp New & Notable Mar 8, 2022
A truly psychedelic jazz record, “Bloom Anubis” ventures out into uncharted territory, with ominous tones & sci-fi synths. Bandcamp New & Notable May 15, 2021